INTRODUÇÃO: A avaliação da fisiologia intracoronária antes da revascularização miocárdica é recomendada em pacientes com doença arterial coronariana (DAC); entretanto, sua segurança para pacientes com doença renal crônica (DRC) é desconhecida. A avaliação funcional pode ser realizada utilizando o método hiperêmico (reserva de fluxo fracionada [FFR]), que requer um medicamento indutor de hiperemia, como a adenosina, ou métodos não hiperêmicos que não requerem um agente indutor de hiperemia (relação instantânea livre de ondas [ iFR], razão de ciclo completo em repouso [RFR] e razão diastólica livre de hiperemia [DFR]). A DRC é um fator de risco bem conhecido para DAC e DAC grave. Em pacientes com DAC preexistente, a doença renal crônica (DRC) também está associada a resultados adversos, incluindo aumento da mortalidade após síndrome coronariana aguda, revascularização miocárdica com intervenção coronariana percutânea (ICP) e cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM). A correlação entre esses métodos em pacientes com disfunção renal e naqueles com função renal preservada não está bem elucidada. OBJETIVO: Nosso estudo teve como objetivo avaliar a eficácia da estratégia intervencionista em pacientes com estenose coronariana intermediária e DRC na população brasileira. MÉTODOS: Neste estudo retrospectivo e unicêntrico, avaliamos 151 pacientes de um centro no Brasil, de janeiro de 2018 a janeiro de 2022. Definimos dois grupos: DRC (81 pacientes [114 lesões]) e não DRC (70 pacientes [ 117 lesões]). RESULTADOS: Em comparação com o grupo sem DRC, a média de idade foi maior (70,80+11,41 vs. 57,47+10,19, p<0,001), o índice de massa corporal foi menor (25,53+4,29 vs. 27,41+4,25, p=0,007), o volume de contraste utilizado foi menor (91,29+84,85 vs. 123,52+90,02, p=0,02), o tempo de fluoroscopia foi maior (81,59+82,90 vs. 50,22+57,78, p=0,007) e o número de lesões isquêmicas/pacientes foi maior (0,74+ 0,91 vs. 0,44+0,70, p=0,005) no grupo DRC. Os desfechos primários nos grupos com DRC e sem DRC foram 22,07% e 14,92%, respectivamente (p=0,363). Com relação ao seguimento de longo-prazo, a média foi de dois anos, e houve diferença significativa na taxa de revascularização da lesão alvo (TLR) (11,68%, grupo com DRC vs. 1,49, grupo sem DRC, p=0,02), mas não houve diferença entre as taxas de morte por todas as causas (6,49%, grupo com DRC 1,49, grupo sem DRC, p=0,15), reinfarto (3,89%, grupo com DRC vs. 1,49%, grupo sem DRC, p=0,394) e necessidade de nova revascularização (11,68%, grupo com DRC vs. 5,97%, grupo sem DRC, p=0,297). CONCLUSÃO: Encontramos maior taxa de TLR no grupo com DRC sem aumento nos desfechos primários e secundários, demonstrando a segurança do método de fisiologia invasiva em pacientes com DRC.
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